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A vida e a religiosidade em torno da Professora Francisquinha Godoy

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A vida e a religiosidade em torno da Professora Francisquinha Godoy
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Foto: Arquivo Pessoal

Por Paulo César Gomes, professor, escritor, históriador, colunista do Farol de Notícias e apresentador da TV Farol

A coluna Viagem ao Passado, em edição extra, publica hoje a terceira reportagem da história da Francisquinha Godoy e de seus filhos.

Todo o material publicado foi cedido pelos filhos de Francisca Godoy: Socorro, Serginho, Freddy Godoy e por amigos e admiradores da professora.

Reforçamos também a nossa campanha de combate à violência contra a mulheres, principalmente as que vivem relacionamentos abusivos.

Caso você conheça algumA e queira denunciar de forma anônima, entre em contato o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), assim como, com o 14º Batalhão de Polícia Militar, ligando para o número (87) 9 9995-4641 e 180.

E você mulher, que está sendo ameaçada, use código com palavras de alerta em ligações para a polícia: como pedir pizza, lanche com urgência e no final diga o seu endereço. Vamos dizer não a violência contra a mulher!

UMA PROFESSORA DOCE E RESPEITADA

Enquanto Francisquinha Godoy vivia a divindade de tomar conta de nove filhos, da casa e trabalhar em três escolas. O seu companheiro vivia cantando em bares e outros lugares.

Segundo o escritor e pesquisador Dierson Ribeiro, que na época tinha 11 anos, o seu pai, Zé Ribeiro, tinha um bar onde Zezinho costumava frequentar.

“Ele ia para lá sempre para cantar músicas que eram sucesso. Lembro-me que quando foi lançada a música “os brutos também amam”, Zezinho ficou a tarde inteira cantando e meu pai tocando violão. Ele só saiu quando ‘bateu o martelo’ e disse que estava pronto para cantar.

É lógico e racional que não podemos marginalizar ou discriminar alguém pelo simples fato de gostar de música, mas no caso de Zezinho, a sua atitude dentro de casa era bem distinta daquela que ele tinha no meio social.

A vida e a religiosidade em torno da Professora Francisquinha Godoy

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Segundo a filha mais velha Socorro Godoy, ele sentia prazer em maltratar os filhos: “Às vezes estava ali tocando o violão e de repente vinha e dava um cascudo em um, puxava a orelha de outro. Isso sem nenhum motivo aparente e depois voltava a tocar o violão como se nada tivesse acontecido”.

Já Dona Francisquinha, uma pessoa calma, tranquila, mesmo sendo de baixa estatura se demonstrava uma mulher gigante. Por vezes carregava no corpo as marcas da violência cometida pelo marido.

Em conversa com o colunista, Ida Maria, natural de Floresta, mais que nos anos 1970, estudou com Dona Francisquinha, na Escola Normal, nos relatou alguns detalhes interessantes.

“Estudei com a dona Francisquinha até o ano de 1970, todas as meninas da turma adoravam ela pelo jeito de ensinar, de explicar os conteúdos. Ela dava aula de Português e Psicologia, todas as outras professoras eram irmãs. Uma coisa que me chamou atenção foi o fato de que ela chegou um dia com o braço roxo. Então, perguntamos a ela o que tinha sido aquilo, e simplesmente respondeu: são coisas da vida!”

Segundo o ator e diretor de teatro, Modesto Lopes de Barros, a oratória dela o impressionava: “Eu conheci Dona Francisquinha Godoy no Solidônio Leite. O que mais me chamava atenção era a oratória dela. Quanta força, quanto carinho no uso da palavra ela tinha. Dona Francisquinha Godoy era realmente uma pessoa abençoada. Quanta tristeza senti ao saber da notícia da sua morte tão brutal”.

Segundo a família, era comum ela aparecer com vários hematomas pelo corpo em função das agressões que sofria de Zezinho Carvalho. Essa vida de violência física e psicológica levou a professora Francisquinha a envelhecer rapidamente. Ela com 38 anos parecia estar próxima dos 50 anos. Em uma das suas últimas fotos ela aparece sorrindo como brilho no olhar contagiante.

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FRANCISQUINHA GODOY: UMA MÁRTIR E UM SER DE LUZ

Após a forma brutal e covarde com a qual a vida de Francisquinha Godoy foi ceifada, aos 39 anos. Uma verdadeira multidão incalculável acompanhou o cortejo fúnebre até o cemitério local. Por se tratar do dia 08 de setembro, dia padroeiro da cidade, período que a cidade mais recebe visitantes, o cortejo foi um dos maiores já visto em Serra Talhada.

Logo após o assassinato, várias pessoas de toda a região do Pajeú e de outros estados começaram afirmar que tinha alcançado uma graça por intercessão da mártir Franciquinha Godoy. A casa da família passou a ser reduto de orações e pagamento de promessas.

A coluna conseguiu o depoimento de duas pessoas que afirmam terem sido salvas e curadas pela intercessão da professora. Antes, porém, é preciso afirmar que não se trata de um debate religioso, é sim, de um relato histórico. Cabe a cada um, de acordo com suas convicções, desenvolverem suas opiniões.

Marias das Graça Aprígio de Lucena, engenheira civil e de segurança do trabalho, nascida em 14 de junho de 1952, em Gravatá – PE, atualmente mora em Recife. Ela nos enviou um áudio através de aplicativo de mensagem onde descreve uma série de episódios dela com Frascsiquinha Godoy.

“Minha história de vida com Francisquinha Godoy teve origem por volta de 1970, precisamente no mês de março, quando eu a conheci pessoalmente, ela veio para a missa de sétimo dia da cunhada, que era mãe da minha melhor amiga, Virginha Peixoto, filha de Seu Abel Peixoto. Então eu tive a graça de conviver com Francisqinha por dois dias, tivemos oportunidades de conversar muito e em uma dessas conversas, ela me disse três coisas que ficaram muito marcadas em mim. A primeira, foi porque eu estava muito ‘aperiada’ com o vestibular, estava me preparando. Eu havia deixado o curso de medicina já no 3º ano (nessa época os cursos não eram por semestres). Eu queria fazer engenharia e disse a ela que estava com medo de passar. Ela olhou para mim, segurou na minha mão com força e disse: “continue Graça, estudando no ritmo que você está, que você vai passar na sua primeira opção”. Realmente eu passei na primeira opção que foi a Politécnica da A vida e a religiosidade em torno da Professora Francisquinha GodoyFESPE. No mês de setembro (de 1973), quando soube que ela havia falecido, foi um baque muito grande. Passei a rezar para Francisquinha, religiosamente, acedendo uma vela e rezando o terço, sempre antes dos estudos. E passei bem no vestibular. Depois disso nunca mais deixei de rezar para Francisquinha. Durante a faculdade, tive muitos ‘aperreios’, e sempre pedia a ela e era atendida”, relatou Graça Perígio, continuando:

“Quando estava no 5º ano de Engenharia eu tive uma gripe e essa gripe se transformou em uma pneumonia aguda dupla e com uma bactéria no sangue. O Dr. Luiz Rêgera, o melhor pneumologista do Recife, disse que o meu caso era muito grave, por causa da bactéria. Então, ele associou dois antibióticos e minha mãe me viu com aquela febre que não passava, expectorando sangue. Minha mãe me perguntou o nome da tia Virginia que eu sempre rezava para ela. Eu disse que é Francisquinha. Ela então foi para a janela e pegou o terço e começou a rezar. Com uma semana eu voltei ao médico, e fiz o exame de Raio-X, e ele se espantou e brincou: foi um milagre de São João da Barra. Minha mãe então disse: “Dr. Luiz foi um milagre de Deus com intercessão de Francisquinha Godoy”. Esse foi o primeiro grande milagre com intercessão de Francisquinha, entre tantos outros. Um que merece ser contado, ocorreu em 2016, quando eu tive um descolamento de retina com rompimento da retina. Eu pedi muito a Francisquinha para não perder a visão, e graças a Deus, e a intercessão dela eu também não perdi a visão. Essa relação com Francisquinha não para nunca porque todos os dias eu sempre vivo uma dificuldade e peço a Francisquinha e ela sempre me ajuda”.

Dois depoimentos importantes vêm da cidade de Triunfo. O primeiro é de Marieta Bessera, que trabalhou 21 anos na Escola Normal. E também ouvimos Dona Adalgisa falar muito sobre ela. Para Marieta, Francisquinha Godoy é uma santa.

“Como somos de Triunfo conhecíamos a família de Zezinho. Ele tinha um irmão por nome Miguel e ele andava muito em meu sítio, Brejinho. Toda semana, como era vendedor ambulante da zona rural, sempre passava na casa de meu avô e conversava, cantava, tocava violão, por sinal muito bem. Então, tinha essa aproximação. De Dona Francisquinha eu sou muito devota desde mamãe, pra mim ela é uma Santa. Qualquer coisa que procuro e não acho peço logo a ela, imediatamente encontro o objeto perdido. Como mãe e esposa, em minhas aflições sempre recorro a ela e sou logo atendida”.

O outro relato é de Joseilda, filha de Dona Maria Gonçalves dos Reis, já falecida, que descreve como a sua mãe foi salva da morte por intercessão de Francisquinha:

“Minha mãe também alcançou uma graça e eu fui com ela pagar a promessa. Ela teve uma menina morta e ficou entre a vida e a morte em Serra Talhada. Dona Vanda, enfermeira de Triunfo, foi quem acompanhou ela e na alta veio deixar ela em casa. Agora, eu não sei se foi a dona Vanda que fez a promessa, ela só disse para ela se pegar com Dona Francisca Godoy. Só sei dizer que ela foi valida! Tenho isso viva na minha memória!”

A vida e a religiosidade em torno da Professora Francisquinha GodoyDona Francisquinha era uma pessoa muito ligada a Igreja Católica e participava de vários eventos. Um deles foi descrito de forma emocionada por Dona Adalva Cordeiro, que também fala do carinho e do respeito com a colega de trabalho.

“Nós fomos colegas contemporâneas. Francisquinha foi um exemplo, um legado especial na história da educação de Serra Talhada. Uma professora completa, um ser humano excepcional, uma mulher rica em virtudes, temente a Deus, estudiosa, preparada, vocacionada. Que nos deixou uma falta muito grande com o fim trágico de sua história, mas durante toda a sua existência plantou a boa semente do saber, do amor a Deus, do amor aos irmãos, da confiança, da gentileza, cordialidade, do caráter, uma mulher virtuosa. Por sinal, nós trabalhamos no último natal (da vida dela) com o padre Jesus”, escreveu Dona Adalva, completando:

“Nós fizemos belas encenações no patamar (da Igreja) contando toda a história do nascimento de Jesus. E no final ela aparecia com Jesus que era um dos seus filhos. Eu não sei qual deles, mas foi tão emocionante esse momento. Francisquinha foi um marco na minha vida. Foi assim, ela se foi, mas me deixou uma luz, algo que me impulsionava a caminhar, a ser generosa, e eu tenho certeza de que é uma alma muito amada por Deus e Maria Santíssima”.

Durante a reportagem do Globo Repórter (1977), Dona Amara Fogueteria, foi indagada sobre se acreditava na santidade de Francisquinha, ela respondeu que não, para ela Francisquinha “era Espírito de Luz”. Em consulta jornalista, descobrimos que a expressão “espírito de luz” é usada no espiritismo para definir pessoas que em outras encarnações sofreram muito e que reencarnam com mais maturidade para encara o sofrimento.

Mas existe outra definição bastante interessante sobre luz, que explicada das seguintes formas: “São pessoas que possuem empatia, simplicidade, humildade e amor dentro de si com uma naturalidade constrangedora. A gente nunca esquece uma pessoa de luz que passou em nossas vidas.”

CASA DE FRANCISQUINHA: PEREGRINAÇÃO

Após assassinato de Francisquinha e a prisão de Zezinho Carvalho, os nove filhos foram morar em uma casa alugada, na Rua dos Correios, por Antônio Policarpio de Andrada (o popular Seu Madeira), que por decisão do Juiz do Ítalo passou a ser o tutor das crianças.

Além do abalo dos filhos, os amigos da família que eram vizinhos e da mesma faixa etária na época também sofreram com a tragédia. Uma das meninas que sofreu bastante com os acontecimentos de 07 de setembro, foi Joana D’Arc.

Conhecida por Teca, na época tinha 14 anos, e mesmo com o choque emocional que sofreu no dia, ela chama a atenção para mais um detalhe que corrobora para hipótese de que Zezinho premeditou o assassinato de Francisquinha para horário em Dona Amara acionasse a girandola e o som dos fogos abafasse os tiros.

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“Eu lembro na minha mente de como Cocâ sofria, e o assédio de Zezinho em relação a ela. Rosarita, era aquela pessoa que ficava no canto, encolhida, era temerosa, com medo. Eu ainda hoje lembro do olhar, ela já ficava assim, se tremendo todinha. No dia do acontecimento, eu não lembro mais nada depois que ela correu atrás dele (segundo o boletim de ocorrência Zezinho na fuga agrediu a filha com uma coronhada). Porque Enock e a mãe, correram para lá e a mãe gritou, chega Enock! Que Joana D’Arc está lá dentro. Mamãe e seu Enock me levaram nos braços para casa”, descreveu Joana, finalizando:

“Eu estava doida chorando, em casa mãe me deu um remédio, e de repente a rua encheu. Dona Amara já tinha suspeitado e na hora de soltar a girândola não fez, ele (Zezinho) queria que ninguém ouvisse os tiros e desconfiasse. Mas dona Amara Fogueteira foi esperta e não soltou a girândola, é tanto que todo mundo comentou que ela não soltou. Eu sei que de imediato, eu fui para o terraço e vi que a rua estava tomada de gente. Eu passei muito tempo apavorada, acredito que as meninas, que também são filhas, mesmo sendo do mesmo DNA, só vieram ter essa reação depois que desenvolveram a depressão na fase adulta”.

Por cerca de quatro a cinco anos a casa que ainda estava em construção, virou um local de romaria, haviam velas por todos os lados, fotos de pessoas, cartazes aclamando Dona Francisquinha como uma mártir, imagens de santos e santas, peças de roupas, cartas, braços, pernas e cabeças de bonecos. Tudo isso colocado por pessoas que declararam ter conseguido obter uma graça através da intervenção de Dona Francisquinha junto a Deus. Vieram pessoas de outros estados, inclusive do Rio Grande Sul. O local onde ela faleceu permaneceu com as marcas de sangue da sua face e de seu corpo, bem abaixo da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

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Outra coisa que chamava atenção era que o sangue permaneceu vermelho como se o sangue tivesse sido extraído há pouco tempo. O número curioso aumentava a cada. No entanto, quando Socorro retornou a cidade e com apoio dos irmãos, foi pedido para que todas indumentárias fossem removidas para o túmulo dela no cemitério local.

Com a reforma do Jazigo, foi disponibilizado um espaço atrás da entrada principal para que os devotos pudessem rezar pela alma de dona Francisquinha. Este colunista esteve em 2017, no cemitério e pode comprovar que a fé e a crença em torno de Francisquinha Godoy ainda é continua muito grande.

No quarto e último capítulo, você descobrirar detalhes da personalidade de Zezinho Carvalho com base em depoimentos que constam no Inquérito Policial, como foi o julgamento dele, o reerguimento dos filhos de Francisquinha Godoy e perda prematura de Bebeto Godoy.

Ressaltamos aqui que nenhuma das filhas foram violentadas por Zezinho, apenas Sorroco foi assediada (conforme consta no Inquérito Policial). Segundo Socorro, certa vez, durante a noite, ela sofreu assédio físico, conforme palavras dela:

“Ele tocou nos meus seios enquanto eu dormia e eu gritei e mamãe veio em meu socorro. Ele mentiu ao dizer que estava tendo um pesadelo”. Pela idade de Cocâ na época ele hoje seria enquadrado como pedófilo, entre tantos outros crimes que ele cometeu.

Caso o leitor queira relatar com documento médico, a doença e a cura, ou com fotos da época, do velório ou do julgamento, entre em contato com Paulo César Gomes, através do WhatsApp (87) 9 9938-0839.

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Fonte: faroldenoticias.com.br