É impressionante como há dificuldade em parte da nossa sociedade na mera obrigação de interpretar textos.
No fundo, isso explica fenômenos como o avanço das fake news, do bolsonarismo, dos movimentos que exploram nossa deficiência cognitiva e interpretativa.
Escrevi sobre a participação de Flávio Marques, prefeito eleito de Tabira, no Congresso da AMUPE. Disse que ele estava no evento “como pinto no lixo”.
No Instagram, algumas reações taxaram o texto de “agressivo”, “deselegante”, que “Flávio é sério”, que “isso foi um desrespeito”. Fiquei entre a paciência de explicar e a vontade de, como em via de regra, ignorar.
“Pinto no lixo” é uma expressão popular usada para representar a condição de uma pessoa em estado de extrema felicidade e alegria.
Diz a jornalista Taysa Coelho, é comum falar que determinada pessoa está feliz como um pinto no lixo quando não para de comemorar ou vibrar por algum acontecimento que lhe foi favorável.
A expressão bastante usada para demonstrar a satisfação por uma vitória pessoal ou por um objetivo alcançado. Quando se quer demonstrar que uma pessoa está muito feliz ou muito satisfeita, costuma-se dizer que ela está mais feliz que um pinto no lixo.
A expressão popular teria surgido da observação do comportamento dos filhotes das galinhas. O cronista Márcio Cotrim explica, na edição 93 da Revista da Língua Portuguesa, que os pintinhos costumam ficar entusiasmados quando encontram lixo.
“Isso acontece porque, em meio aos detritos, os animais podem achar toda a sorte de vestígios de alimentos. Esse comportamento eufórico passou a ser associado a situações de alegria e celebração dos seres humanos. Mesmo que seja por motivos que, para outros, possam parecer banais”.
Resumindo, quis dizer na notícia que, podendo debater os primeiros passos como prefeito de sua terra, Flávio Marques estava empolgado, eufórico, “animado como pinto no lixo” em, finalmente, gerir os destinos de sua terra.
Pode parecer bobagem, mas uma situação como essa explica o tamanho do buraco e vácuo intelectual em que parte da nossa sociedade entrou.
Ah, e o pinto vai continuar no lixo…
Fonte: nilljunior.com.br