Por Ananias Solon, Zootecnista, historiador e escritor de Serra Talhada
Em minhas andanças pelas paisagens dos sertões, ao me deparar com uma casa daquelas antigas, de arquitetura típica, com duas árvores, uma para frente e outra para trás rodeadas nos oitões. Com seus currais de cerca de faxina, de um lado o curral do gado, do outro o chiqueiro das cabras, e ao fundo o poleiro das galinhas, que era numa velha quixabeira que adotaram como seu porto seguro.
Fiquei maravilhado com aquele cenário, e me remeti aos tempos de outrora, quando criança, na Fazenda Icós, dos meus avós e tios. Lembrando assim do grande escritor e poeta Casimiro de Abreu, em sua obra (As Primaveras) com poema: “Oh! Que saudades que eu tenho / da aurora da minha vida / da minha infância querida / que os anos não trazem mais”.
São tantas recordações maravilhosas das épocas de férias que a ‘primaiada’ se encontrava na Fazenda Icós. Me lembro com prazer daqueles belos momentos. Como o anoitecer quando íamos dormir, sempre tomava a bênção a nossos avós, e começava a sessão das histórias de alma. Cada um contava as mais mal assombradas, o mais medroso corria, se enrolava todo na rede e ficando alí sisudo e bem sossegado.
Achava maravilhoso quando chovia, e agente corria na chuva. As vacas, as cabras, as galinhas, o cachorro, tudo misturado. Era gostoso o cheiro da chuva e da terra molhada. Era tudo muito bom. Que saudades, éramos felizes e não sabíamos.
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E lá estou eu, deitado na rede, dando as últimas espreguiçadas naquela imensa sala daquele casarão. Ao lado tinha uma janela com vista para o curral do gado.
Ao abrir ficava maravilhado ao ver o vaqueiro tirando o leite das vacas, com seus tremendos chocalhos a tilintar denunciando que estava sendo ordenhada. E do outro lado a janela dava para o chiqueiro das cabras, que me deixava curioso e vibrante.
Com o bodejar dos bodes correndo atrás das cabras. Eu ficava fascinado com tudo aquilo, pedindo para aquelas férias não terminarem.
E com o amanhecer, no raiar do sol, minha vozinha já no pé daquele fabuloso fogão a lenha, com a chaleira fervendo o gostoso café que exalava seu aroma, se misturando com a fumaça do fogão, incensando a casa com aquele cheiro peculiar do amanhecer na fazenda.
E o dia começa com toda animação e alegria com o canto dos pássaros numa grande sinfonia. Orquestrado pelo maestro galo do terreiro, que pontualmente dispara seu despertador com seu canto sequenciado anunciando um novo dia nos sertões.
O que me deixava pasmo e maravilhado era ver a vitalidade daquele galo (superman). Logo cedinho no terreiro, em clima de festa, namorando com várias galinhas ao mesmo tempo no maior galanteio da vida.
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Já o anoitecer tenho a impressão que é mais tristonho. Os pássaros cantam baixinho se agasalhando, o galo recolhe em silêncio para o topo do poleiro, se prevenindo dos predadores. As vacas e as cabras, ali deitadas fazendo suas digestibilidade através da ruminação.
E ali naquele rincão dos sertões, mais um dia se passou com toda felicidade e harmonia. Todos dormindo juntos, cedo da noite, e ficando lá no terreiro, o cachorro da casa como nosso vigia.
E hoje, diante do avanço cibernético, em que tudo é midiático, o tempo voa. O ser humano ficando mais materialista, aumentando suas maldades, os conflitos mundiais crescendo.
Naquela época, havia paz no mundo. Os dias pareciam serem mais longos. Tínhamos tempo para tudo, inclusive para sermos saudáveis e felizes.
Fonte: faroldenoticias.com.br