Por Ananias Solon, zootecnista e historiador
Andei contando uma história inusitada que aconteceu há muito tempo atrás, numa aventura perigosa bastante radical lá nos confins do sertão, onde Chico Preto quase se deu mal. Distorceram a verdade do episódio como de fato se deu.
Na Fazenda Serra Verde em Serra talhada-PE, tinha um velho trabalhador chamado Antônio Quilete, que era conhecido na redondeza com suas histórias cabeludas, e nas de Trancoso ele era especialista, bem discreto parecendo um fariseu.
E lá estou à escutar suas fantásticas histórias, diferentes dos tempos atuais, com as tais redes sociais, que com o avanço tecnológico, vivem à agredir nossa crianças, que ao nascerem os dentes, ganham logo de presente de seus pais um celular para auxiliar na sua criação e formação perspicaz.
Dentre as histórias do velho Antônio Quilete, a que mais gostei foi a das marrecas, Seu Antonio tinha um filho, que era o danado garoto Chico Preto, que auxiliava nas atividades da Fazenda, o mesmo era mais velho que eu, e sempre o acompanhava nas suas peripécias de menino rural.
Vou narrar com detalhe no imaginário figurado lá nas nuvens como tudo ocorreu. Foi lá na Fazenda Serra Verde em Serra Talhada.
Nas épocas das invernadas as aves migratórias tem seu porto de refúgio numa lagoa natural surgida entre as serras no boqueirão deserto lá dentro do matagal, para fazerem suas reproduções numa harmonia fenomenal.
Ao chegar naquele lugar, Chico Preto ficou encantado e maravilhado com tanta beleza e abismado com a quantidade de marrecas fazendo suas algazarras, cantos e rituais de acasalamentos completando seu ciclo de reprodução temporal.
E com a fama das estripulias de menino rural, aliado aos impulsos de garoto raiz, Chico Preto pensou logo em capturar algumas marrecas, tentando pegá-las na corrida, investida perdida, bando espantado, revoada bonita!
E com a memória fértil para tal façanha, Chico bolou uma estratégia para encostar e capturar as benditas marrecas, jogou varias cabaças dentro da lagoa.
Em seguida as marrecas chegaram, se familializaram com as cabaça ali boiando. Era madrugada, ainda escuro quando Chico chegou silenciosamente na beira da lagoa com uma cabaça acoplada na cabeça, devidamente furada no local dos olhos, equipado com 20 metros de corda enrolado na cintura.
Lentamente adentrou naquelas águas frias e cristalinas, ficando submerso com a cabeça fora d’água, encostando nas marrecas, elas nem perceberam sua presença confundindo-se com as cabaças.
E com precisão começou amarrar as marrecas uma por uma pelos pés, e já com uma hora de amarração, aconteceu um imprevisto, de repente chegou uma boiada e com o barulho dos chocalhos as marrecas se espantaram e levantaram voo com Chico a bordo e numa decolagem perfeita.
Incrível sensacional, foi subindo pras alturas com Chico atrelado, amarrado na cintura, numa revoada sincronizada, sobrevoando a região com toda amargura, passando por Serra Talhada, Chico em estado de aflição com aquela turbulência de doer o coração.
Apelando para todos os santos pra sair daquela enrascada com toda precisão. Nossa Senhora da Penha atendeu seu pedido vendo sua aflição.
Aterrisagem forçada foi sua decisão, desamarrando uma por uma, até chegar no chão, são e salvo, com muita emoção, o povo a sua espera, ele pousou na multidão.
Agradecendo a nossa Senhora da Penha pela sua proteção. Aqui termino está historia com Chico Preto dizendo que ficou a lição e pra pegar marreca, ele não quer mais não.
Fonte: faroldenoticias.com.br