Fundado em 1825, veículo surgiu como folheto de anúncios e atravessou dois séculos de história, resistindo a impérios, ditaduras e à revolução digital
Em 7 de novembro de 1825, uma cidade ainda sem status de capital e com menos de 20 mil habitantes testemunhava o nascimento de um jornal que se tornaria um marco na história da imprensa brasileira: o Diario de Pernambuco. Há exatos 200 anos, surgia um modesto folheto de quatro páginas, medindo 24,5 por 19 centímetros, que circulava entre os recifenses com anúncios de vendas, aluguéis, roubos e até registros de pessoas escravizadas fugidas.
Na época, o Recife ainda se recuperava das tensões políticas pós-Independência e da repressão à Confederação do Equador. A liberdade de imprensa era recente, e a efemeridade dos jornais era a regra. Mas o Diario sobreviveu, destacando-se por sua função de utilidade pública em vez de viés político. Essa estratégia garantiu sua permanência diante dos inúmeros ciclos de instabilidade política que atravessaram o século XIX e além.
A obra foi idealizada por Antonino José de Miranda Falcão, tipógrafo que imprimiu as primeiras edições em um cenário de intenso analfabetismo, no qual a leitura pública em tabernas e praças permitia que a mensagem do jornal chegasse mesmo à população que não sabia ler.
Hoje, o Diario de Pernambuco é o jornal mais antigo ainda em circulação na América Latina. Em dois séculos de existência, acompanhou de perto transformações profundas no Recife, em Pernambuco e no Brasil: do Império à República, da escravidão à democracia, do chumbo das ditaduras às incertezas da era digital.
Segundo o historiador George Cabral, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), o surgimento do Diario em um período de forte repressão, sem se vincular diretamente às disputas ideológicas da época, foi essencial para sua longevidade.
“Ele nasce como um veículo de prestação de serviço, o que permitiu uma relação mais neutra e duradoura com seus leitores”, destaca o pesquisador. Assim, o Diario de Pernambuco não apenas registrou a história — tornou-se parte fundamental dela.
Fonte: pernambuconoticias.com.br














