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A Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE), há 18 anos, contribui para a formação de inúmeros profissionais, através de cursos de licenciatura e bacharelado, em niveis de graduação e pós graduação, contribuindo também para o desenvolvimento da cidade e região.
Ao longo de 18 anos, a UAST recebe alunos de diferentes localidade e de até outros estados, comprometendo-se em proporcionar educação gratuita e de qualidade, para todos os seus estudantes universitários, que ingressam na intituição, por meio de rigorosos processos seletivos, sendo o principal deles, o Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM.
Um dos principais pilares da consolidada UAST é proporcionar a inclusão e acessibilidade aos seus estudantes, visando isto, a instituição, dispõe de uma série de recursos para melhor atender a toda comunidade acadêmica.
Prestes a realizar mais uma formatura, nessa quinta-feira (14), a universidade está em festa, não apenas por celebrar a conclusão de um ciclo tão esperado pelos discentes, mas também, por formar, pela primeira vez em 18 anos, um aluno surdo, que concluiu com muito êxito, apesar das dificuldades, o curso de bacharelado em Sistema de Informação.
A reportagem do Farol de Notícias em contato com Jéssica Santos, responsável pelo setor de acessibilidade da UAST, conheceu a história de João Paulo e de como a universidade vê a inclusão de seus universitários.
SUPERAÇÃO E EXEMPLO
João Paulo Santiago Cavalcante nasceu surdo, no dia 18 de julho de 1990. Desde muito cedo, enfrentou desafios que muitos não poderiam imaginar. Durante sua infância e adolescência, a comunicação foi uma barreira enorme para ele, pois não teve acesso ao aprendizado de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) até 2013.
Sua história na escola começou em 2002, quando entrou no ensino fundamental. Naquela época, não havia intérprete de LIBRAS, o que dificultava ainda mais sua adaptação. Começou a primeira série sem saber como se comunicar de forma eficaz. Em 2005, terminou a quarta série, mas continuou sem acesso a LIBRAS, o que tornou o aprendizado ainda mais desafiador.
Em 2006, mudou-se para o Colégio Municipal Dr. Arconcio Pereira, onde cursou da quinta até a oitava série, sempre com a mesma dificuldade: a falta de intérprete. Em 2010, iniciou o ensino médio na Escola Prof. Manoel de Queiroz, mas, novamente, sem intérprete de LIBRAS. Terminou o ensino médio em 2012, mas a falta de apoio durante todos esses anos o deixou com a sensação de que algo estava faltando.
Nos anos seguintes, enfrentou um novo desafio: o ENEM. Tentou em 2012 e 2013, mas sem intérprete de LIBRAS, e, como resultado, foi reprovado em ambas as tentativas. A tristeza e a frustração tomaram conta dele, pois não sabia nada de português e não tinha acesso ao que precisava para entender as questões. Ele se sentiu impotente, sem saber o que fazer.
Depois, desistiu por três vezes do ENEM, em 2014, 2015 e 2016. Estava exausto e sentia que nunca teria uma chance real de conquistar seus sonhos. Mas algo dentro dele não permitiu que desistisse completamente.
Em 2017, com a esperança renovada, decidiu se inscrever novamente no ENEM. Para sua surpresa, os vídeos de provas passaram a ter intérprete em LIBRAS, e finalmente, conseguiu ser aprovado!
Em 2018, após ser aprovado no ENEM, fez sua inscrição no SISU e escolheu dois cursos como opções: Engenharia de Pesca e Zootecnia, na UAST-UFRPE. Quando recebeu a notícia de que foi aprovado para Engenharia de Pesca, foi uma vitória imensa!
Começaram suas aulas presenciais em 18 de abril de 2018, cheio de expectativas, mas logo se viu sobrecarregado. Em janeiro de 2019, após oito meses de muita luta, decidiu desistir do curso devido ao cansaço mental e físico. Sentia que estava se sacrificando demais, e a dor de cabeça constante o impossibilitava de continuar.
Mas ele não desistiu de si mesmo. Em 2019, fez novamente a inscrição no ENEM e, em 2020, foi aprovado para o curso de Sistemas de Informação, sua nova escolha, também na UAST-UFRPE. Dessa vez, ao ver o “Parabéns” no site, seu coração se encheu de alegria e gratidão. Finalmente, ele conseguiu! A emoção foi indescritível.
Hoje, ele continua sua caminhada, com muito orgulho de tudo o que conquistou. Cada passo, cada superação, o trouxe até aqui. A jornada não foi fácil, mas agora, ele pode olhar para trás e ver o quanto cresceu, não só como estudante, mas como pessoa. A luta nunca foi apenas para alcançar um diploma, mas para se encontrar e fazer sua voz ser ouvida, finalmente.
PRINCIPAIS DESAFIOS
A UAST, como outras instituições de ensino, enfrentou diversos desafios para garantir a inclusão de alunos com deficiências, especialmente em relação à adaptação de infraestruturas e à disponibilidade de recursos adequados. No caso do primeiro aluno surdo, as principais dificuldades foram:
• Capacitação de Profissionais: Garantir que docentes, técnicos e outros colaboradores estivessem preparados para atender às necessidades específicas de um aluno surdo foi um grande desafio. A capacitação contínua em práticas inclusivas, como o uso de intérpretes de Libras e metodologias pedagógicas adaptadas, é essencial para assegurar um acompanhamento adequado. No entanto, essa capacitação exige esforço constante, recursos e atualização para garantir sua eficácia.
• Disponibilidade de Intérpretes de Libras: A disponibilidade de tradutores e intérpretes de Libras qualificados, especialmente para atendimentos em tempo integral, representou uma dificuldade considerável. A presença de intérpretes de Libras é fundamental para garantir que o aluno surdo tenha acesso pleno às atividades acadêmicas, incluindo aulas e eventos institucionais. Esse desafio requer planejamento contínuo e treinamento especializado para garantir que as necessidades do aluno surdo sejam atendidas de forma eficaz.
• Adaptação de Materiais Didáticos: A adaptação de materiais, como a tradução de textos para Libras, a criação de legendas em vídeos e a utilização de outras tecnologias assistivas, exigiu tempo e recursos especializados. Além disso, a necessidade de reorganizar a apresentação de conteúdos em disciplinas técnicas ou específicas representou um desafio adicional, com o objetivo de garantir que o aluno surdo tivesse uma experiência de aprendizagem acessível e eficaz.
• Mudança de Cultura Institucional: A mudança cultural dentro da universidade para promover a inclusão de alunos surdos também foi um grande desafio. Sensibilizar docentes, discentes e técnicos para a importância de adotar atitudes inclusivas, como o respeito à língua de sinais e à adoção de práticas pedagógicas adequadas, exigiu um esforço contínuo de sensibilização e conscientização de toda a comunidade acadêmica.
Apesar dessas dificuldades, a UAST tem superado esses desafios com dedicação e colaboração entre os diversos setores da universidade. A instituição tem avançado significativamente na promoção da inclusão, garantindo que seus alunos, incluindo os surdos, tenham acesso a uma educação de qualidade.
A UAST continua comprometida em aprimorar suas práticas e estruturas para garantir a acessibilidade e a inclusão em todos os níveis.
ACESSIBIILIDADE E INCLUSÃO
Atualmente a UAST conta com mais de 30 estudantes matriculados em diversos cursos de graduação que possuem algum tipo de necessidade educacional específica. Esses alunos estão distribuídos em 9 cursos de graduação e a universidade tem trabalhado para garantir que recebam o suporte necessário para seu pleno desenvolvimento acadêmico.
A inclusão desses estudantes é uma prioridade para a UAST, que adapta suas práticas pedagógicas, recursos e infraestrutura para atender às necessidades de cada um.
A UAST, em consonância com a UFRPE/SEDE, disponibiliza uma série de recursos para garantir a inclusão de alunos com deficiências, atendendo às necessidades específicas de cada estudante e promovendo um ambiente acadêmico acessível e acolhedor. Entre os principais recursos oferecidos, destacam-se:
1. Apoio Pedagógico a Discentes com Necessidades Educacionais Específicas: A UAST oferece suporte pedagógico especializado para estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. O objetivo desse apoio é promover a autonomia e a autoconfiança dos alunos, assegurando que eles alcancem seu pleno potencial acadêmico.
2. Adaptação de Materiais: A universidade adapta materiais didáticos, recursos e o ambiente físico para garantir que os alunos com deficiência tenham acesso às informações e atividades acadêmicas de maneira independente. Isso inclui a utilização de tecnologias assistivas e a oferta de materiais didáticos adaptados, como textos em Braille e vídeos com legendas ou Libras.
3. Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras): Para garantir a inclusão de alunos surdos, a UAST disponibiliza Tradutores e Intérpretes de Libras, assegurando que a comunicação seja facilitada nas aulas, palestras e eventos acadêmicos, promovendo a acessibilidade no ambiente universitário.
4. Orientação a Docentes: A universidade oferece capacitação contínua aos docentes sobre estratégias pedagógicas inclusivas, metodologias de ensino adaptadas e práticas de acessibilidade. As orientações são realizadas por meio de reuniões, palestras e o Guia de Acessibilidade, elaborado pelo Núcleo de Acessibilidade (NACES), que oferece diretrizes para a implementação de práticas inclusivas nas aulas.
5. Oferta de Cursos de Libras: Para promover maior inclusão, são oferecidos cursos de Libras para docentes, técnicos e discentes da comunidade acadêmica. O objetivo é capacitar todos os membros da universidade para se comunicarem com alunos surdos de maneira mais eficiente e inclusiva.
6. Cursos de Formação sobre Acessibilidade e Inclusão: A universidade oferece cursos de formação contínua para técnicos e docentes, com foco em acessibilidade e inclusão. Esses cursos visam sensibilizar e capacitar os profissionais para lidarem com a diversidade funcional de maneira mais eficiente e inclusiva, promovendo um ambiente acadêmico mais acolhedor para todos.
7. Promoção de Eventos e Palestras sobre Acessibilidade e Inclusão: A UAST organiza eventos, seminários e palestras sobre acessibilidade e inclusão, com o intuito de conscientizar a comunidade acadêmica sobre as questões da diversidade e garantir igualdade de oportunidades para todos os alunos.
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Fonte: faroldenoticias.com.br