
Por Paulo César Gomes, professores, historiador, escritor, apresentador da TV Farol e colunista do Farol de Notícias
A coluna “Viagem ao Passado” inicia hoje uma série de reportagens que contará um pouco da vida da professora Francisca Godoy e de seus filhos. Essa é uma narrativa que começa buscando valorizar o amor maternal, a empatia e a capacidade de renascimento de nove crianças e adolescentes, em meio a ato de frieza e brutalidade de homem.
Essas reportagens pretendem alertar as milhares de Franciscas, Marias, Terezas, Aparecidas, espalhadas pelo Brasil afora e que neste momento estão correndo risco de morte, face a perversidade que ronda as cabeças dos seus (mal)ditos companheiros.
Resgata uma episódios de ocorrem há mais de cinquentas anos não é tarefa fácil, mas desde a minha infância, a história de Dona Francisquinha e dos seus filhos, foram narradas para mim por minha mãe dezenas de vezes.
Despertando em mim muita curiosidade sobre tudo o que aconteceu antes e depois do dia 07 de setembro de 1973, data da maior tragédia da história de Serra Talhada.
E foi com ajuda de Socorro Godoy (Côca) e Fred Godoy, filhos da professora, que nos disponibilizaram fotos, documentos e relatos, muitos serra-talhadenses poderão, enfim, conhecer a mulher que para algumas pessoas que viveram na década de 1970, após a morte virou ‘santa’.
UMA JOVEM SONHADORA E DESBRAVADORA
Francisca Godoy nasceu na Fazenda Surubim, em Serra Talhada, em 01 de julho de 1934, filha do Sr. Manoel Mário Nunes Peixoto e Ana Godoy Peixoto, que meses depois mudaram-se para a sede do município com toda a família, por motivos de saúde. Desde pequena, Francisca tinha um grande interesse pelas atividades escolares, despertando assim a atenção do seu genitor que atentamente observava o seu desempenho.
Se preocupando com o futuro e buscando apoio junto ao filho Abel Nogueira Peixoto, tabelião respeitado da cidade de Gravatá-PE, para que o mesmo custeasse os estudos de sua filha. Razão esta que levou a jovem de apenas 13 anos para morar em Gravatá, em 1947, deixando para trás seus sonhos de menina, buscando uma nova sociedade e novos interesses, mas nunca esquecendo do seu amor, sua terra natal Serra Talhada.
Em Gravatá, estudou no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, administrado pelas Irmãs Dorotéias, que tinha como diretora a Madre Pessoa. Lá ela era muito querida, pela competência e simplicidade que lhe era peculiar.
Em 08 de dezembro de 1951, concluiu o curso de magistério e logo em seguida voltou para Serra Talhada, assumindo a regência efetiva da cadeira nº 93, localizada na Escola São Vicente (atual Colégio da Imaculada Conceição), onde começou a lecionar. O Hino do Colégio têm a letra de Francisquinha e a melodia do seu futuro esposo.
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Como amante incondicional da profissão que abraçou, começou a ser reconhecida e valorizada, visionária e pesquisadora. Sempre buscou o melhor método de alfabetização, democratizando o ensino, nascendo um vínculo forte de amor e carinho entre seus alunos e suas famílias, gerando um elo de gratidão e amizade duradoura.
Assim conquistou respeito e muitas responsabilidades, pois sempre era procurada quando se tratava de criar ou produzir eventos diversos. Ou até mesmo para fazer cursinhos preparatórios para as professorandas que se inscreviam em concursos públicos.
Em 1956, aos 22 anos, casou-se com José Nunes de Carvalho Filho (Zezinho), natural de Triunfo, na antiga capela do Hospam, com a bênção de Pe. Luiz. Desse matrimônio nasceram nove filhos:
- Maria do Perpétuo Socorro Godoy Inácio de Oliveira;
- Napoleão Roberto de Godoy Carvalho – Bebeto Godoy (in memoriam);
- Maria do Rosário de Fátima de Godoy Carvalho;
- Ricardo Jorge de Godoy Carvalho;
- Ana Noeme de Godoy Carvalho;
- Sergio Romero de Godoy Carvalho;
- Frederico Henrique de Godoy Carvalho;
- Leonardo César de Godoy Carvalho;
- Virgínia Emília de Godoy Carvalho.
UMA MÃE VITIMADA POR UM PSICOPATA
Francisquinha e Zezinho tinham tudo para ser um casal feliz. O ciúme doentio, a possessividade, a agressividade com os filhos e as ameaças a pessoas da família, tornaram Zezinho um psicopata e pedófilo, que perseguia as próprias filhas como se fossem objetos sexuais. “Mulher minha e filha minha não é para homem nenhum, são só para mim”, dizia Zezinho Carvalho.
Enquanto isso, a professora Francisquinha se dividia entre o trabalho, a casa e o cuidado com os filhos. Filhos pelos os quais prometeu dar a própria vida para protegê-los. Ela era devota de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e costuma às terças-feiras reza as novenas na Concatedral de Nossa Senhora da Penha. Quis o destino que Fransciquinha Godoy fosse assassinada aos pés da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
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Francisca Godoy já aguentava tanto sofrimento vivido ao longo de um relacionamento de pouco mais de 17 anos. Em um dos seus cadernos de anotações ela fez um desabafo:
“Não aguento mais. Vou embora. Zezinho é o germe mais imundo e repugnante que pode existir na natureza”. Em outro trecho ela faz um apelo emocionado a Deus: “Cada hora de tortura é Vossa Senhor. Suplico-vos ó Pai, amparai e protegei os meus filhos”.
Essas palavras foram escritas em 31 de julho de 1973, poucos mais de um mês depois ela foi assassinada.
Na próxima matéria da série o leitor irá conhecer um pouco mais sobre a mente doentia de Zezinho Carvalho e as premonições sentidas por Dona Francisquinha e sua filha Socorro Godoy.
Fonte: faroldenoticias.com.br