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O Setembro Amarelo é uma campanha anual, que teve início no Brasil em 2015, em prol da valorização da vida e conscientização sobre saúde mental. A reportagem do Farol de Notícias conversou com a Psicóloga Dra. Jocce Machado, CRP 02-21060, que trouxe importantes esclarecimentos sobre essa temática.
De acordo com a profissional, o assunto ainda é um tabu na sociedade, por isso, é preciso falar sobre a saúde mental durante o ano inteiro e não apenas no mês de setembro.
Farol de Notícias: Qual a importância da campanha Setembro Amarelo?
Dra. Jocce Machado: Na minha opinião, precisamos falar mais sobre saúde mental, intensificar o conhecimento da sociedade, sensibilizar a essa sociedade sobre as psicopatologias, evidenciando que sim, é coisa séria e não frescura.
Mas devemos falar dela de forma constante não só no mês de setembro, mas de janeiro a janeiro, porque, muitas pessoas vêm perdendo suas vidas por falta de conscientização, por falta de informação e principalmente por acharem que o que estão passando, na visão do outro não é doença, e sim uma frescura, falta de Deus, de dinheiro, de alguma coisa e isso é muito delicado.
Então, é de suma importância, essa campanha do setembro amarelo, para falarmos mais sobre e quebrar tabus.
Farol de Notícias: Como as empresas podem implementar ações efetivas de cuidado com a saúde mental?
Dra. Jocce Machado: A saúde mental no ambiente laboral, deixou de ser um tabu há muito tempo e as empresas e organizações priorizam manter uma equipe engajada e produtiva. E para isso, seu colaborador precisa estar bem emocionalmente.
Então é fundamental implantar políticas inclusivas, programas de suporte aos colaboradores, a criação de um espaço seguro para discussão sobre saúde mental, realizar terapias corporativas e dá visibilidade ao tema no espaço de trabalho, promovendo assim, uma conscientização sobre questões psicológicas.
Acho que cada empresa, apesar da maioria das empresas ter o setor de Recursos Humanos, eu acredito também que deveria ter um setor de psicoterapia, com um psicólogo que não fosse um colaborador da empresa, mas que pudesse dá esse suporte diário ao paciente e com certeza, a partir daí, teriam colaboradores mais produtivos, mais leves, pois, estariam cuidando da sua saúde mental, podendo desenvolver um bom trabalho no seu ambiente laboral.
Farol de Notícias: Quais são as principais características de um suicida? Há diferença de idade, gênero ou socioeconômica?
Dra. Jocce Machado: Não há diferença. As principais características é que eles começam a apresentar alterações de comportamento e essas mudanças sinalizam esse sofrimento profundo, por exemplo, um indivíduo que desenvolvia tarefas do cotidiano normalmente, sem fazer muito esforço, começa a ter dificuldade de desenvolver essas tarefas, começa a se isolar mais, a ter dificuldade também nas tomadas de decisões, não consegue mais solucionar problemas que antes eram mais facilmente solucionados.
O humor da pessoa começa a ser afetado repentinamente. Se alguém era otimista, do nada passa a ser pessimista, ou se era uma pessoa eufórica, começou a apresentar sintomas e falas depressivas, sem razão aparente e essa mudança merece atenção especial.
Outro sinal que caracteriza um possível suicida, são os alarmes verbais. Nem sempre, as ameaças de que uma pessoa vai tirar sua própria vida, são alarmes falsos. Em muitos casos, não se trata de um simples desejo de chamar atenção mas sim, de um pedido de socorro, pois, ele realmente está em sofrimento mental e quem fala em se matar pode realmente apresentar uma forte tendência ao suicidio. Então, é muito importante ficar de olho.
Outro fator, é o isolamento social, é uma das marcas do comportamento suicida. A pessoa se afasta da família, dos amigos, deixa de participar de grupos que antes participava, como grupos estudantis, de amigos, profissionais, esportivos, enfim, a solidão passa a ser a sua principal companhia. A solidão é um sintoma crucial da depressão. O indivíduo no fundo, acredita que ninguém o entende e o compreende, então ele prefere estar só, com o silêncio, sem julgamentos, sem os possíveis conselhos que acabam se tornando críticas.
Por muitas vezes, esse indivíduo vai está cercado de pessoas, mas mesmo assim, ele vai se sentir sozinho, por se sentir incompreendido. Outro sinal, é o consumo abusivo de substâncias, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, medicamentos e outras substâncias psicoativas, é uma das características de pessoas com comportamento suicida.
De acordo com alguns estudos, mais de 50% dos casos, acontece com pessoas depressivas ou que possuem um transtorno de humor relacionado ao uso de drogas.
Farol de Notícias: Depois que a pessoa passou por um tratamento psiquiátrico, há ainda possibilidade dela tentar tirar a própria vida outra vez?
Dra. Jocce Machado: Sim. Há essa possibilidade sim. O tratamento psiquiátrico é responsável pelo protocolo medicamentoso, ou seja, por uma parte do tratamento que a pessoa que tem uma psicopatologia, ou seja, uma depressão, por exemplo, necessita. O tratamento completo que há de mais eficiente atualmente para tratamento ou cura de ansiedade e depressão, é o tratamento multidisciplinar.
Ou seja, protocolo medicamentoso e terapêuticos associados, juntos ao paciente. Isso sim, faz toda diferença. Lembrando que o paciente deve abraçar e acreditar nesses protocolos, pois, ele pode ter o melhor profissional do mundo, ter um excelente protocolo medicamentoso e terapêutico. Se o paciente não fizer a parte dele, nada feito.
Farol de Notícias: Como proceder ao descobrir que um amigo ou parente tem ideia suicida ou tentou se suicidar?
Dra. Jocce Machado: O primeiro passo é acolher esse indivíduo, sem tentar entender. Não é para você entender o motivo. As pessoas acreditam que acolher uma pessoa que tentou suicídio é tentar entender o motivo mas, acolher é simplesmente abraçar o outro sem tentar entender os motivos, sem julgamentos, sem perguntas e direcionar aquela pessoa ao processo terapêutico, ao tratamento psiquiátrico.
Na maioria das vezes, o individuo que está contra sua própria vida não entende o motivo de fazer isso. Essas pessoas só querem acabar com a dor que estão sentindo, a dor psíquica, a dor emocional que elas têm e que é insuportável viver com ela. Então se você tem um parente, um amigo ou conhece uma pessoa nessa situação, o acolha e o direcione a buscar tratamento psiquiátrico e terapêutico.
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Fonte: faroldenoticias.com.br