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A ladainha e as incríveis histórias do papagaio Teo em Serra Talhada

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A ladainha e as incríveis histórias do papagaio Teo em Serra Talhada
Ananias Solon - Foto: Arquivo Pessoal
Ananias Solon – Foto: Arquivo Pessoal

Por Ananias Solon, Zootecnista e historiador

Era final de verão, época da quaresma, tempos em que o meu saudoso tio Elizeu costumava campear o gado. Passando próximo à lagoa seca, existia um pé de Baraúna secular, lugar de refúgio dos animais, principalmente as aves que costumavam fazer suas reproduções, mas, com o passar dos tempos, ela perdeu sua vitalidade e morreu, ficando seca.

Nessa dita árvore ficaram vários ocos, lugar ideal para os papagaios fazerem suas reproduções e acidentalmente a Baraúna arriou, deixando dois filhotes de papagaio no chão. Meu tio vendo aqueles pelancos agonizando, pegou e levou para casa na tentativa de salvá-los.

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Fiquei maravilhado com aquela arrumação, pois com a ajuda da minha saudosa madrinha Marina, conseguimos alimentar os bichinhos, mas, só um sobreviveu, recebendo o nome batizado por mim, de: TEO.
E ele foi crescendo sempre em liberdade, começou a dar os seus primeiros vôos, familiarizando-se com com a gente, já começando a gaguejar, chamando todos pelos nomes, principalmente o de Luzia, que cuidava dele com carinho.

Com o passar dos tempos, Teo entrou no cotidiano da fazenda, aprendendo a cumprimentar as visitas que chegavam, dando bom dia, boa tarde, chegando até mesmo a ajudar na lida com os animais, gritando, tangendo as ģalinhas , os bodes, chamando pelo nome do cachorro, estrumando para correr atrás dos animais que entravam nas roças.

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Lembro-me que ocorreu um incidente terrível com Teo. Numa manhã, ele estava tomando banho de sol no topo de uma árvore no terreiro da fazenda e de repente escutamos os seus gritos pedindo socorro, um Gavião tinha acabado de capturá-lo, e ele lá nas alturas, no maior alarido do mundo, agonizando, pedindo clemência à nossa Senhora da Penha para se livrar das garras daquele maldito Gavião e pra nossa alegria, numa ligeireza, Teo aterrizou são e salvo, se sacudindo dando suas gostosas gargalhadas.

Outro caso fatídico que aconteceu com ele, foi no período de seca, verão brabo, típico do período de estiagem, onde o verde nos confins do sertões é coisa rara. A vegetação com sua roupagem cinza clara e o meu tio Elizeu, na labuta com os animais, fornecendo ração para as vacas na cocheira, e Teo debruçado em cima da cancela acompanhando os trabalhos.

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De vez em quando chamava o nome de uma vaca, que atendia o chamado levantando a cabeça, e no piscar de olho, uma vaca confundiu Teo com um mói de capim, agarrando-lhe com sua língua comprida e áspera e Teo fazendo um grande alarme.

Meu tio Elizeu, com muita rapidez, salvou Teo daquela abocanhada inesperada, e mesmo depois daquele ataque, Teo ainda soltou uma gostosa gargalhada. E assim é a vida quando saímos do nosso habitat natural, mesmo estando em uma zona de conforto, ficamos vulneráveis às adversidades do ambiente em que vivemos.

Mas o melhor de Teo, eu conto como se deu : foi nos meses de maio, o pessoal da redondeza costumava ir rezar o terço e Teo assistindo tudo e com a repetição das ladainhas, Teo aprendeu e entrou na reza, fazendo parte daquelas orações todas as noites do mês Mariano.

Teo levava uma vida tranquila, sempre dando suas voadas nos arredores, voltando sempre para o seu lugar preferido, que era em cima da porta da cozinha. Mas, certo dia, madrinha Marina sentiu falta de Teo e passaram-se dias e Teo nada de aparecer. Todos sentiram sua falta, a casa ficou silenciosa e triste sem os gritos de Teo.

E passaram os tempos, depois de dois anos, meu tio estava nos campos atrás de uma réis que tinha desaparecido e lá dentro da mata fechada muito distante, meu tio sentou-se em uma pedra alta, e tentando escutar o toque do chocalho da vaca, no maior silêncio, só escutava o vento açoitando nas árvores.

E de repente meu tio escuta uma ladainha bem próximo, ficando ele assombrado e com medo. E devagarinho, à pé, seguiu em direção à reza que continuava em ritmo igual às noites do terço e ele caminhando lentamente. Mesmo arrepiado sem entender aquela situação e já bem próximo, sem ver nada, chegando embaixo de um grande Juazeiro e levantando a vista para o topo da árvore, avistou um bando de papagaio que ao sentirem sua presença, saíram em uma revoada, saindo por último um papagaio voando baixo que notadamente meu tio reconheceu que era Teo gritando continuamente: Xau xau xau.

Aqui termino dizendo que prender animais silvestres é crime.

Fonte: faroldenoticias.com.br